nota sobre apatia romântica

radical chic
2 min readFeb 16, 2021

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ninguém consegue ser interessante por muito tempo. porque tudo o que elas querem é gritar a independência. não querem que descubram suas falhas, seus vícios, seus apegos. querem ser invencíveis. querem parecer incríveis. querem cativar por pura diversão do ego — ou apenas pela confirmação de que não são tão merdas quanto pensam.

no começo, é instigante, parece um jogo de enigmas. e você até acredita que elas são sensuais. mas depois que o tesão passa, vira um grande tédio. perde toda a graça. porque essa coisa de ser misterioso é cafona demais. e uma hora você descobre que era tudo ilusão de ótica: ninguém é tão interessante quanto parece.

a verdade é que não há nada mais sexy do que ser espontâneo e um anarquista de alma. gente que fala o que pensa. gente que faz o que quer. gente que crê no que faz sentido para si. gente que é contra o que não faz. gente que se assume e se revela por inteiro. sem frescura. sem tabu. sem vergonha. gente que não tem medo de quebrar porque sabe que não há colete à prova de bala melhor do que o amor próprio. meu deus, isso é tão atraente!

lembro do quão inexplicável era estar com alguém que gostava de viver cada dia como se fosse único — mesmo com todas as incertezas do mundo. se seria breve ou eterno, não faria diferença. se eu partiria ou se corresponderia o seu coração, também não era uma questão. ele dizia o que vinha de dentro e me entregava como flor. porque quem se doa muito, por dentro, transborda. ele era demais e eu o amei com todas as minhas vísceras.

mas isso foi há seis anos. hoje chega a ser cômico: troco algumas carícias por aí e, em uma passe de mágica, tudo deixa de existir sem precisar dizer uma palavra. a gente pega e se livra na mesma velocidade. na mesma intensidade. uma hora a gente ama, outra hora a gente se livra como quem diz “Deus me livre!”. a modernidade é tão moderna que é descolado ser covarde — e é careta ser sincero.

por isso, não me importo mais se vai, se fica, se está ou se um dia será. deixo ir, deixo ficar. não me culpo nem me questiono. não faço mais questão. no fundo, na verdade, nunca fiz. sempre soube que dessas relações não se pode esperar muito a não ser por um fim inacabado, sem resposta.

então eu fujo. ele foge. nós fugimos. eu sumo. ele some. nós sumimos. e vamos deixando rastros de interrogações pelo caminho. assim, seguimos suprindo a vontade feroz de fazer um bacanal com o mundo inteiro — no qual ninguém se despe.

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radical chic

experimento linguagens na esperança de me encontrar.